domingo, 29 de maio de 2011

A viagem

Para quem não sentia, um frio ar a noite tinha
Cheio de cinzento, triste, acabado
Mas do luar dos teus olhos, encantado
Saía aquele brilho quente, que me acarinha.

Não digo de barco, mas vamos até ao Sol
Pois é desse beijo tudo o que eu sei
Pelo menos, do calor não me ausentei
E se por vezes me deixo ir, leva-me para não cair.

E dou-te a mão numa branca folha
Branca igual ao meu peito, por pintar
Leva-mo o vento, onde irá parar?
Memórias para onde o mundo agora olha.

E é tudo um rasgo de alma, de verdade
O sorriso nasce, para não morrer
O amor existe, está a crescer
E com ele um baú eterno de felicidade.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Nônô

Leonor de seu nome, o mais belo e puro. Olhos, esses azuis eram. O seu cabelo formava caracóis loiros, enquanto se ia ondulando e caindo harmoniosamente pelos seus ombros.
Nascida de um cais de sonhos, com folhas de onde foi buscar a cor dos olhos. O vestido era como o céu da madrugada, e coroava-a rainha de um reino sem espaço nem tempo. Dali, há muito tempo, haviam partido barcos de sonhos e expectativas. Leonor, foi um tesouro achado.
Era fruto de um amor genuíno, daqueles que raramente se repetem e que são difíceis de encontrar. Nascida da pureza, sonhada e desejada por duas almas que se completaram para, simplesmente, se amarem.
Um dia, que já era noite, os pais levaram-na a passear. Naquela noite seria diferente. Foram de sorrisos até ao cais e, lá, sentaram-se os três. A pequena Leonor, como sempre fazia, bebia as imagens e as cores que vivia. Nisso, era como a mãe. Depois, dentro da sua cabecinha, tecia palavras bonitas sobre as bonitas coisas. Aí, a princesa era um pouquinho mais o pai.
Leonor não sabia contar. Mas sabia o significado dos números. Não sabia ler, nem escrever... Mas sabia brincar com as palavras. Não usava relógio e mal sabia ver as horas. Mas entendia perfeitamente a ambiguidade do tempo.
De repente, sem que nada o fizesse adivinhar, a pequena Leonor perguntou: "Mamã, é a primeira vez que venho aqui? Parece que já cá estive." A mãe prontamente respondeu: "Não, amor... Já aqui estiveste. No meu pensamento e no do papá." E o pai explicou: "Foi aqui que nos conhecemos princesa, eu e a tua mãe. E foi aqui que nos conhecemos de novo. Nasceste aqui querida, mas não me perguntes como. Há coisas que até podem ter explicação, mas são mais mágicas assim, por explicar. E olha, consegues ver o rio?" "Sim, papá, porquê?" "É que um dia, eu falei com ele, e contei-lhe um grande segredo. Nós podemos falar com as coisas amor, elas guardam os nossos segredos." "Também posso, papá?" "Claro que sim."
E, mesmo sem saber escrever, Leonor pegou numa caneta e num papel. Sabia de antemão que o pai trazia sempre esses objectos com ele para qualquer lado que fosse. Nele, desenhou um grande olho. Desenhava-os tão bem quanto a mãe. E depois escreveu, conforme conseguiu: "Para poderes ver o amor que nasceu contigo." E foi, com os pais, atirar o papel ao rio.
E o papel rolou e girou pela corrente, enquanto ficaram os três na margem a vê-lo seguir o seu rumo, o seu destino... E o rio pôde ver os três, um amor feito e um amor nascido. E sorriu, um sorriso azul, que rimava com amor, sonho e carinho.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O cavaleiro

O espaço encurta-se, e o tempo caminha e assobia
Num vaso, uma flor que prepetua memórias daquele dia
Por nós regada, gotas de carinho e ternura
A mágoa apagada, a raiva escondida num canto de amargura

Já galopou a dor imensa, agora reina, amiúde, amor
Enquanto cavalga pelas dunas, na incerteza de encontrar esplendor
O cavaleiro o procura, de olhos fechados
Já foi tarde, se é cedo, correu pelos dedos entrelaçados

E corre e pára e anda, sedento do que não tem
Sem saber se, por uma noite, poderia vir a ser alguém
E atrás de cada monte de areia, o sonho do oásis encantado
Enquanto sente em cada sorriso o destino por ele inventado

Setenta e quatro

Flores. Cores. Paleta. Tinta. Sangue. Vida. Semente. Terra. Fogo. Chama. Grito. Tribo. Casa. Caracol. Concha. Areia. Infinito. Desconhecido. Mar. Som. Onda. Cilindro. Copo. Vinho. Deuses. Fé. Vela. Parafina. Barro. Mãos. Carícias. Olhares. Silêncio. Horizonte. Amanhã. Incerto. Chuva. Liberdade. Asas. Alturas. Longe. Perto. Abraço. Conforto. Lar. Companhia. Sorrisos. Cais. Mão. Duas. Dez. X. Mais. Soma. Inteiro. Totalidade. Nada. Tudo. Coração. Quatro. Um. Dois. Dança. Valsa. Poesia. Partilhar. Receber. Dar. Tesouro. Luz. Cores? Amores. Beijos. Flores : )

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Este jardim

Pare a caneta, o pincel e a mão, o silêncio também é artista
Lê nos meus olhos aquilo que te quero dizer com a alma
Enches-me de ti, e o meu poço não transborda nunca
Ama-me em cada verso, prosa, melodia

E se for isto o abismo, não mais quero conhecer a terra
No cinzento das nuvens pintamos o verde deste jardim
Os teus olhos e sorriso, arco-íris, pote de ouro
Como se de um papel por escrever se tratasse

Passa tempo, que nós passamos por ti, indiferentes
Porque é contigo que quero construir castelos de areia que o mar não vai levar
E o vento, esse, há de levar para longe os versos do nosso silêncio
Um brilho intenso ao qual nem a Lua se consegue equiparar

O Paraíso

Se eu pudesse ao menos esconder o meu sorriso de ti
A luz batia de baixo apesar de a razão mandar que viesse de cima
Estranho seria se os meus olhos não cruzassem com os teus
E sei o que é verdade hoje, e isso faz me esquecer o amanhã

Planto flores no teu jardim como quem escolhe com que cores pintar
Se sou inteiro sozinho, como é possivel que me sejas metade?
Levanto-me da cadeira, deixando um lugar para que o possas ocupar
É como o bebé que, depois de respirar pela vez primeira, não mais pode largar o ar

E teço ternura com os olhos, enquanto me embalas com essa canção
Trabalhamos letras e cores, no papel o mundo como nós o vimos
De que serve jogar ao rio flores se as podemos ouvir com os nossos ouvidos?
O vosso paraíso pode não existir, eu, eu descobri o meu