sexta-feira, 27 de maio de 2011

Nônô

Leonor de seu nome, o mais belo e puro. Olhos, esses azuis eram. O seu cabelo formava caracóis loiros, enquanto se ia ondulando e caindo harmoniosamente pelos seus ombros.
Nascida de um cais de sonhos, com folhas de onde foi buscar a cor dos olhos. O vestido era como o céu da madrugada, e coroava-a rainha de um reino sem espaço nem tempo. Dali, há muito tempo, haviam partido barcos de sonhos e expectativas. Leonor, foi um tesouro achado.
Era fruto de um amor genuíno, daqueles que raramente se repetem e que são difíceis de encontrar. Nascida da pureza, sonhada e desejada por duas almas que se completaram para, simplesmente, se amarem.
Um dia, que já era noite, os pais levaram-na a passear. Naquela noite seria diferente. Foram de sorrisos até ao cais e, lá, sentaram-se os três. A pequena Leonor, como sempre fazia, bebia as imagens e as cores que vivia. Nisso, era como a mãe. Depois, dentro da sua cabecinha, tecia palavras bonitas sobre as bonitas coisas. Aí, a princesa era um pouquinho mais o pai.
Leonor não sabia contar. Mas sabia o significado dos números. Não sabia ler, nem escrever... Mas sabia brincar com as palavras. Não usava relógio e mal sabia ver as horas. Mas entendia perfeitamente a ambiguidade do tempo.
De repente, sem que nada o fizesse adivinhar, a pequena Leonor perguntou: "Mamã, é a primeira vez que venho aqui? Parece que já cá estive." A mãe prontamente respondeu: "Não, amor... Já aqui estiveste. No meu pensamento e no do papá." E o pai explicou: "Foi aqui que nos conhecemos princesa, eu e a tua mãe. E foi aqui que nos conhecemos de novo. Nasceste aqui querida, mas não me perguntes como. Há coisas que até podem ter explicação, mas são mais mágicas assim, por explicar. E olha, consegues ver o rio?" "Sim, papá, porquê?" "É que um dia, eu falei com ele, e contei-lhe um grande segredo. Nós podemos falar com as coisas amor, elas guardam os nossos segredos." "Também posso, papá?" "Claro que sim."
E, mesmo sem saber escrever, Leonor pegou numa caneta e num papel. Sabia de antemão que o pai trazia sempre esses objectos com ele para qualquer lado que fosse. Nele, desenhou um grande olho. Desenhava-os tão bem quanto a mãe. E depois escreveu, conforme conseguiu: "Para poderes ver o amor que nasceu contigo." E foi, com os pais, atirar o papel ao rio.
E o papel rolou e girou pela corrente, enquanto ficaram os três na margem a vê-lo seguir o seu rumo, o seu destino... E o rio pôde ver os três, um amor feito e um amor nascido. E sorriu, um sorriso azul, que rimava com amor, sonho e carinho.

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